Toda a gente gosta do filme O Sexto Sentido, certo? Foi um grande sucesso em 1999, memorável sobretudo pelo seu grande twist final, característica que se tornou imagem de marca de M. Night Shyamalan… mas a carreira deste realizador/produtor/argumentista/ator, não é feita só de sucessos, muito longe disso. É um daqueles casos em que se passa de bestial a besta num instantinho e o maior twist dos filmes mais recentes deste autor é perceber se o filme é bom ou mau.
A premissa de Old é simples mas interessante: imagina que estás com a família preso numa praia deserta em que todos envelhecem a uma velocidade extraordinária. Este conceito foi suficientemente apelativo para me levar ao cinema a vê-lo, juntando ao facto de ser realizado por quem é que, tal como referi antes, acrescenta um grau de imprevisibilidade interessante à experiência cinematográfica (para o bem e para o mal).
A sua obra é já longa e variada e contém filmes maravilhosamente realizados e outros desconcertantes, sobretudo no seu tom. A minha opinião é que desta vez tentou, a partir do conceito interessante da graphic novel Sandcastle (de Pierre Oscar Leby e Frederick Peeters), fazer um “filme de terror mau”. O que é que eu considero um filme de terror mau? Aquele tipo de filme de orçamento relativamente baixo em que existe um misto de terror e comédia, nem sempre intencional.
The Visit, o filme que em 2015 trouxe Shyamalan de volta para as boas graças da crítica e do público (depois dos desastres de After Earth, The Last Airbender e The Happening) é, na minha opinião, um extraordinário sucesso do realizador na sua incursão por este género. É um filme totalmente desconcertante tão engraçado como assustador em que também fiquei com a dúvida:
É mesmo esta a intenção do filme?
Mas nem interessa muito se foi intencional ou não porque adorei o resultado e recomendo vivamente (The Visit – 5/5).
Em Old tenho mais dúvidas e penso que o filme em si não foi tão bem conseguido. Mais uma vez existe toda uma estranheza de tom, situações, personagens e diálogos acrescida por uma realização e montagem bastante estranhas. Arriscaria dizer que se o apanhasse a dar na televisão sem nenhum contexto sobre o mesmo iria achar que era um filme que entretém mas bastante mal feito… será que por ter a noção que o realizador sabe trabalhar de forma competente devo encarar o filme de outra forma? Um filme “intencionalmente mal feito”?
O trabalho de câmara é extremamente estranho, cheio de enquadramentos desenquadrados e movimentos duvidosos, trabalho que muitas vezes soa a amador.
Depois de assistir a um vídeo em que o realizador disseca uma das cenas do filme a minha sensação é que Shyamalan gosta de facto de contar histórias e de arriscar na forma como o faz. Ele justifica a forma errática como a câmara se desloca comentando a intenção por trás de momentos específicos e o que ele diz faz sentido e mostra pensamento e engenho mas será que no final resulta mesmo?
Este foi o seu 15º filme (entre outras produções, como séries) numa carreira com quase 30 anos. Depois de tanto trabalho feito, respeito e admiro a vontade de M. Night Shyamalan em ser fiel a si próprio mas, simultaneamente, continuar a arriscar e a experimentar na forma como faz as coisas, mesmo que o resultado possa não ser sempre bem sucedido.
Old para mim é um 3/5, acho que não resultou completamente mas deixou-me suficientemente entretido e interessado em ver o que é que o realizador fará de seguida, seja por curiosidade mórbida se é bem sucedido ou se vai espetar-se ao comprido, seja por ser interessante pensar que nem tudo tem que ser feito segundo fórmulas vencedoras.